Deco do onibus em Quebec por volta das 5:30h. Saio com minhas malas e vou a pe pra pensao onde iria ficar.
Aqui existe um tipo de hospedagem chamado Bed & Breakfast. A gente fica na casa de uma pessoa, que te da cafe da manha (incluido na tarifa) e um quarto. Eu fiz o contrato de hospedagem pelo site do BBCanada.
Tudo certinho, era so chegar e me apresentar: 'Bonjour, je m`apelle Rodrigo, je suis brasillien et je suis ici pour le chambre'.
Encontro a direcao da rua atraves de orientacoes pelos transeuntes. Primeira impressao: cidade limpinha, cheio de casas novas, tudo gramado, sem cerca, sem muro, sem grade.
Vejo a casa, nao lembrava o numero, mas era de esquina, na localizacao exata do Google map.
Chego, bato na porta. Abre um senhor e me apresento conforme o texto decorado: 'Bonjour, je m`apelle Rodrigo, je suis brasillien et je suis ici pour le chambre'.
O homem faz uma cara de surpresa, e fala qualquer coisa que so entendi que eu devia estar enganado.
O coracao gelou, pensei numa fracao de segundos: O site e armacao, fui enganado; agora perdi meu dinheiro com a estadia, e ainda vou ter que procurar um hotel de noite e a pe'. So conseguia pensar que estava ralado, ja tinha comecado tudo errado. E o cara com uma cara de envaretado, pensando que pepino e' este que bate 'a minha porta?
Achei o papel que eu tinha imprimido pra saber o endereco no meio da mochila e so consegui pronunciar 'Vous etes M. Conrad Leclerc?' Com cara de alivio ele me responde que era na casa do outro lado da esquina.
Ufa! Duas cuecas novas, por favor;
Passado o primeiro susto chego na outra casa e repito a mesma cena. Desta vez o senhor que me atende sorri e convida para entrar.
A casa e' muito bonita, bem quentinha. Ele me mostra o quarto e tenta conversar, mas nos literalmente nao falamos a mesma lingua. Aos trancos e barrancos vai fluindo uma comunicacao meio tosca. Ele me apresenta a dona da casa que tambem tenta se comunicar comigo.
Eles sao estremamente formais e educados. Me sinto ate constrangido, me sinto um bagual, tosco, vindo direto da Campanha, ou como se diz em Bento, um colono ( na verdade eu sou assim mesmo, uma mistura de colono italiano (Cantarelli) com gaucho da fronteira (Pereira).
E', a gente vai se conhecendo melhor cada dia que passa.
Mas tudo corre bem, nao dou mancada, ou pelo menos so percebo no dia de ir embora uma placa em frances dizendo pra tirar os sapatos ao chegar, que eu nunca tinha visto.
O animal passou todos os dias entrando e saindo com as patas sujas da rua, e agora entendo o porque no inicio sentia algo estranho vindo da direcao da dona da casa que era maniaca por limpeza. Mas tambem nunca pediram pra tirar o sapato...
Tomo banho, e vou jantar.
O M. Leclerc me da as direcoes do restaurante mais proximo. Entendi mais ou menos.
O monstro aqui pega a maleta e pendura atravessado no ombro e sai a passo, com uma calca jeans, camiseta, tenis (meus pes estavam doendo) e a japona velha de guerra.
Chego nestas condicoes num restaurante, tri chique ( o restaurante, nao eu, e' claro).
Vou entrando, louco de fome ( sabe que quando to com fome nao penso direito), como se fosse um Mc Donald`s. Ai vem uma mulher toda uniformizada com uma roupa que parecia do sec.XVII, inclusive com um chapeu estranho (ai,ai, que furada entrei). Comecei a fazer a conta de quanto sairia a conta e como eu sairia dali sem gafe.
Mas ainda bem que pela minha bagualice e pelos meus trajes, a funcionaria se deu conta que eu tinha pegado a nave errada. E em ingles, pois nao entendi nada que ela falava, disse que so tinha pratos com lagosta.
Eu entendi duas coisa: ela estava me dando uma dica que ali nao era o que eu procurava, de maneira polida e educada; ou realmente o restaurante so tinha pratos com lagosta(imagina o preco). 'Oh! I'm sorry, I don't like lobster' respondi; o meu estomago adora, mas meu bolso odeia lagosta. Dei meia volta e sai feito barata tonta, rindo de mim mesmo, ainda mareado da viagem, procurando um restaurante. Mas tudo estava fechado, e tudo era tao longe que resolvi fazer um jejum forcado.
Estava tao cansado, que fui dormir as 9h, pensando: 'Vou ter que me adaptar'.
Normalmente minhas atitudes nao seriam assim tao toscas. Mas apos 30h de viagem, tantas coisas diferentes, me sentindo um estranho, numa terra estranha, com uma lingua estranha, sozinho, resolvi achar tudo engracado e dormir. E dormi feito uma pedra.
Resumo dos primeiros contatos: agi feito um idiota; por isto se voces acharem que algum estrangeiro esta agindo feito um idiota, nao ligue, e' so' o choque cultural inicial.